quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Abraçar a vida e respeitar o amor


Um dos temas que mais tenho ouvido falar nas Celebrações Eucarísticas, dentre outras celebrações que participo é o convívio entre irmãos, apontando sua dificuldade.

Penso e vejo essa dificuldade no dia-a-dia. Sei que temos cada um nossas particularidades, jeito de ser...jeitos e trejeitos que trazemos da infância, que recebemos e assimilamos de nossos pais, avós, etc. Porém, no decorrer de nosso crescimento, nosso amadurecimento, escolhas, individualidades e personalidades permutadas, o ideal de vida a que fomos chamados, que aceitamos e “abraçamos”, tornamo-nos responsáveis por um “nascer de novo”.

Há muito tenho observado o quanto é difícil assumir esse compromisso com o “querer nascer de novo”, pois isto significa uma real e concreta mudança de nossas atitudes, comportamento, pensamento e tudo mais que seja extremamente necessário para que esse “abraço” venha a se tornar real e apaixonado. Não falo da paixão humana desenfreada e perigosa, mas a paixão pelo sobrenatural, pelo Divino e Absoluto, que do nada se fez tudo para nós. Não é essa a atitude? Através do esvaziamento de si, fazer-se tudo para o outro?

Quando Jesus dizia “ Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz e me siga”, “ Venha e não olhe para trás”, “ Venda tudo o que tem e dê aos pobres”, “ Deixe que os mortos enterrem seus mortos”, “Quem ama mais sua mãe, seu pai e seu irmão, não é digno de mim”... Isso mostra a necessidade de uma profunda mudança, um radicalismo tal, um esvaziamento de si próprio, o desligamento dos bens terrenos e até de entes queridos, pois Ele, o Senhor, deve estar sempre em primeiro lugar.

Mas voltando ao modo de ser de cada um, particularmente quem decide por abraçar um modo de vida tão radical...existe um apontamento para um caminhar a fundo, uma interiorização, um esvaziamento, a ponto de chegar a tocar nas profundezas do Absoluto, na raiz, de onde brota a vida.

Sei que não podemos querer viver como se vivia na idade média, mas podemos viver a espiritualidade de quem viveu nela. Eis a raiz, imensa, profunda, onde brota a vida, assim como o útero da mulher.

Não consigo imaginar esse “abraçar” de maneira superficial, a querer dar frutos sem raiz alguma.

Por acaso o ser humano, criado por Deus, foi gerado em laboratório? Não, um embrião gerado no útero de sua mãe.

Vejo jeitos e trejeitos, comportamentos que passam longe da espiritualidade e do carisma que se decidiram por abraçar, sem fazerem nenhum esforço para mudar. É certo que muitos se acostumam tanto com a vivência e convivência do dia-a-dia, que acredito, nem devem perceber que tal comportamento não os aproxima do ideal aceito, mas ao contrário, afastam-no. O pior ainda é quando alguém se deixa contaminar pela simples convivência com quem age de tal forma e toma as dores. Erro duplo. Mais grave ainda é quando a maneira de agir inadequada representa um insulto frontal a raiz da espiritualidade.

Gosto desse radicalismo todo, DIFICÍLIMO, mas não impossível. Erros existem, somos pecadores, mas não se esforçar para não repetir os mesmos erros é comodismo e burrice. Quiçá uma falta de comprometimento interiorizado, causado por uma briga entre o consciente e o inconsciente, que não deixa viver o ideal da forma devida.

Fazem parte do dia-a-dia as brigas, desentendimentos entre irmãos. Porém, INACEITÁVEL o jogo sujo, a covardia, a afronta contra o que o ser humano tem de mais precioso: os sentimentos que nos levam a Deus, pois são esses que nos levam ao contato direto com o Divino. Portanto, sem dúvida, esses sentimentos são os maiores tesouros ofertados ao nosso Paizinho do Céu.

Importante e necessário fazer uma revisão de vida diária, para não se deixar sucumbir pelos comportamentos mundanos, atitudes de altivez, orgulho, ausência de humildade. Nada mais nobre do que não se deixar contaminar por atitudes estranhas ao chamado. Nada mais nobre do que o respeito pelo sentimento que nos leva a Deus: o Amor, e a busca incessante e apaixonada por ele. Nada mais nobre do que se tornar líder sem querer e precisar subir num palco ou pegar um microfone. Nada mais nobre do que ser extremamente transparente em suas atitudes. Nada mais nobre do que ter personalidade própria. Nada mais nobre do que se sentir nada e, por outro lado ser tudo aos olhos do Pai. Nada mais nobre do que a busca de um nascituro pelo raiar do sol, pela busca de uma nova vida, enquanto se vive...pelo respeito e o abraço apaixonado por aquilo que acredita e que o quer fazer renascer, praticamente das cinzas, como uma verdadeira Fênix.

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