quarta-feira, 29 de abril de 2009

São Paulo Apóstolo (parte final)

 

                                             S. paulo

Jerusalém: um líder das Igrejas

Paulo volta pela terceira vez a Jerusalém para prestar contas aos Anciãos acerca de sua missão entre os pagãos. Ele chefia uma delegação de pessoas que representam as Igrejas por ele fundadas, geralmente pagão-cristãs, mas também discípulos judeus, como Timóteo. Tornou-se o líder reconhecido (1Cor 12-14) de um grupo de comunidades locais em contestação com as sinagogas e que levam, no seio das comunidades pagãs, uma existência autônoma. Ele dá a elas o nome de Igrejas, segundo a tradição deuteronômica, reivindicando para cada uma a dignidade de assembléia do povo escolhido por Deus reservada em primeiro lugar à Igreja de Jerusalém. Paulo exerce a autoridade de um apóstolo de Jesus Cristo (1Cor 1-21; 2Cor 1,1), título ao qual é muito ligado.

 

Mas agora, na capital do judaísmo e diante da Igreja de Jerusalém presidida por Tiago, onde “milhares de judeus abraçaram a fé” (At 21,20), pedem-lhe que prove seu apego aos antepassados. Ele havia escrito aos Coríntios: “Tudo suportamos” (1Cor 9,12). Por isso, dirige-se ao Templo, para se purificar com um grupo de nazarenos, “assim todos saberão que tu também é observante da Lei” (At 21,24). E é aí que será preso.

 

Prisão no Templo de Jerusalém

Tudo está pronto para a explosão: o temor levantado pelas pregações de Paulo nas sinagogas e o desenvolvimento desse cristianismo que ameaça as estruturas e as leis. Estouram alguns incidentes durante a chegada de Paulo ao Templo, no sétimo e último dia da Purificação: terá ido acompanhado de algum grego não-judeu, profanando assim o santuário? Alguns judeus da Ásia Menor o reconhecem e instigam a multidão: é expulso do Templo.

 

Graças à chegada do tribuno e de uma tropa de soldados, Paulo escapa da morte, e quer ainda falar. “De pé sobre os degraus, [...] fazendo-se grande silêncio, dirigiu-lhes a palavra em língua hebraica” (At 21,40): explica sua fidelidade de judeu formado na escola de Gamaliel, e o encontro desconcertante na estrada para Damasco, que domina e inspira sua vida. Depois, diante desses judeus de Jerusalém, acrescenta: “E orando no Templo, sucedeu-me entrar em êxtase. E vi o Senhor, que me dizia: ‘Apressa-te, sai logo de Jerusalém, porque não acolherão o teu testemunho a meu respeito’”. E ainda: “Vai, porque é para os gentios, para longe, que eu quero enviar-te” (At 22,17.21). Estas últimas palavras provocam um outro incitamento da turba: de fato, significa que a Aliança contraída por Deus com os fiéis de Israel está aberta a todos.

 

O tempo da prisão e dos processos: Jerusalém, Cesaréia, Roma

Paulo é conduzido à fortaleza de Jerusalém, mas escapa da flagelação porque é cidadão romano: primeiro processo, diante do sinédrio.

Depois de um complô de zelotes judeus que querem matá-lo, é transferido a Cesaréia: segundo processo, diante do procurador Félix (anos 57-59).

Terceiro processo, diante do sucessor de Félix, Festo, dois anos depois.

Quarto processo, diante de Agripa II: “Um homem como este nada pode ter feito que mereça a morte ou a prisão. [...] Bem poderia ser solto, se não tivesse apelado para César” (At 26,31-32).

 

A VIAGEM DO CATIVERIO

No coração da tempestade

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Eis o mais fabuloso relato do Novo Testamento. De Cesaréia a Roma, “a navegação já se tornava perigosa” (At 27,9) depois da festa das Expiações — que introduz o outono. De fato, o navio navega à deriva por quinze dias de Creta a Malta, não se podendo orientar “nem pelo sol nem pelas estrelas” (At 27,20). O prisioneiro Paulo se revela mais livre que os 276 membros da tripulação, capitão, piloto, centurião e marinheiros; ele está acostumado ao mar e à experiência de três naufrágios (2Cor 11,25) e, sobretudo, tem uma segurança que lhe vem de Deus: “Não haverá perda de vida alguma dentre vós, a não ser a perda do navio” (At 27,22), afirma a seus companheiros, quando tudo parece perdido. “Pois esta noite apareceu-me um anjo do Deus ao qual pertenço e a quem adoro, o qual me disse: ‘Não temas, Paulo. [...] Deus te concede a vida de todos os que navegam contigo’” (At 27,23-24).

 

Malta

Todos chegam à ilha, alguns a nado, alguns graças a uma tábua ou caibro. Essa etapa simples e idílica (“Os nativos trataram-nos com extraordinária humanidade, acolhendo a todos nós junto a uma fogueira que tinham aceso”; At 28,2) simboliza a acolhida que o mundo pagão fará ao Evangelho. Depois do perigo e do naufrágio, a escala maravilhosa em Malta tem, para Lucas, o gosto da aurora de uma ressurreição. Uma víbora morde a mão de Paulo enquanto atiça o fogo; ele a lança no braseiro sem nenhuma dor... e o povo o toma por um Deus. Paulo, ainda, cura o pai de seu hóspede, impondo-lhe as mãos, como também a multidão de doentes que acorre. Finalmente, “cumularam-nos com muitos sinais de estima; e, quando estávamos para partir, levaram a bordo tudo o que nos era necessário” (At 28,10).

 

Roma

Depois disso, vem Siracusa, Régio e Putéoli. Paulo tem a alegria de ser acolhido por três irmãos — percorreram 50 km a pé —, já que o Apóstolo não é um desconhecido: eles receberam dele, três anos antes, sua grande Carta aos Romanos. Em Roma, ele encontra também uma comunidade de cristãos, cuja origem se ignora, e da qual Lucas diz ser numerosa e célebre por sua fé e suas obras. O cristianismo foi sem dúvida trazido a Roma muito cedo, por mercadores judeus, e continuou, sem ser notado, perto de algumas sinagogas. Quando Cláudio morreu, Roma tinha cerca de 50 mil judeus vindos de regiões muito diferentes, dispersos pela vasta aglomeração de diversas sinagogas.

 

Paulo chega a Roma em 61, para aqui ser julgado. Depois de dois anos de prisão domiciliar, no coração da cidade, perto do Tibre (o atual bairro judeu), que ele emprega em evangelizar e escrever, o processo se dissolve por falta de acusadores. Mas, depois do incêndio de 64, Nero acusa os cristãos de serem os autores do incêndio. Paulo, assim, é preso, acorrentado no cárcere Marmetino e condenado à decapitação, que terá lugar fora dos muros aurelianos, na via Ostiense, mais provavelmente entre 65 e 67.

 

O MARTÍRIO EM ROMA

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A abertura da Aliança para todos

O primeiro gesto de Paulo na capital do Império e também suas últimas palavras, anotadas nos Atos, foram lançar — mais uma vez — um apelo aos judeus. Como já havia escrito aos romanos: “O Evangelho é uma força salvadora de Deus para todo aquele que crê, primeiro para o judeu, mas também para o grego” (Rm 1,16). De forma que, no final de sua missão, aquele que o Senhor quis Apóstolo das Nações não quer se esquecer nem do “menor de meus irmãos” (Mt 25,40). “Estou carregando estas algemas exatamente por causa da esperança de Israel” (At 28,20). Ele lança um último e vibrante chamado à “conversão” de seu povo, à reviravolta que ele mesmo conheceu. Em Cristo, a Aliança de Deus está de agora em diante aberta a todos.

 

A palavra final não é a morte de Paulo, uma vez que se trata, ao contrário, do desenvolvimento do cristianismo e da Boa Nova levados para todos os lados pela grande testemunha do Ressuscitado, que se tornou, à sua imagem, “Luz das Nações” (Is 49,6; At 13,47).

 

Fonte do texto e fotos: Vaticano On Line

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