domingo, 7 de junho de 2009

A Castidade na perspectiva franciscana

Livres para amar – a Castidade

 

francisco_clara 

Francisco e Clara disseram em suas Regras que queriam viver o Evangelho em castidade.

 

Quando professamos na Família Franciscana fazemos voto de castidade e é bom lembrar que um voto nunca é negativo: é um ato de culto em que nos comprometemos com um bem possível e melhor.

 

Os membros da Ordem Franciscana Secular – OFS não fazem voto e sim uma promessa, um comprometimento de viver seu estado de vida, secularmente, segundo os preceitos contidos na Regra e Vida. Mas todos são também consagrados. (Caminho e Santidade)

O seguimento dos conselhos evangélicos passou a ser visto como um “dom” de Deus, ou um “carisma”: uma graça que a pessoa recebe em benefício de todo o Povo. Isto é, ter o dom da castidade é um compromisso pelo bem de todas as outras pessoas: é uma maneira de ajudar o mundo a viver na esperança.

 

Francisco fala muito em ter um “coração puro”. Clara, nas mesmas circunstâncias, fala na virgindade.

 

Em primeiro lugar, é bom observar que “pureza” não tem, para Francisco, o mesmo sentido que tem para nós hoje: isto é, não está ligada diretamente a um comportamento sexual. É mais ampla.

 

Embora este sentido não exclua o outro. (Caminho e Santidade)

Vejamos alguns textos:

 

“São verdadeiramente limpos de coração os que desprezam as coisas terrenas, buscam as celestiais e não deixam de adorar e ver sempre o Senhor, Deus vivo e verdadeiro, com coração e alma limpa” (Adm 16)

 

“Amemos portanto a Deus e o adoremos com pureza de coração e de mente, porque os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade” (CtFi II,3, 19-20)

 

“Adoremo-lo com coração puro, porque é preciso orar sempre sem nunca se cansar: de fato, o Pai procura esse tipo de adoradores...” (RNB 22)

 

Fica evidente que puro é simplesmente quem não tem mistura: coração puro é o que ama a Deus sem misturar nenhum outro interesse passageiro. Para Francisco, olha tudo com pureza quem está totalmente livre para amar. Poderíamos falar em um “voto de liberdade”.

 

Santa Clara, equivalentemente, prefere falar em virgindade: quanto maior o espaço livre que conseguimos reservar para Deus em nossa vida, maior a nossa virgindade.

 

O fundamento dessa maneira de falar é a expressão de São Paulo: a mulher casada tem que pensar em Deus e no marido e está dividida, mas a virgem pode dedicar-se só a Deus, sem divisões.

 

São Boaventura viu nele um “homem novo”, que imitou a pureza dos anjos (LM Prólogo 2) porque estava em perfeita harmonia com Deus em corpo e alma. Numa harmonia que se estendia a todas as criaturas. Vejamos o que ele disse:

 

Calcule a maravilhosa pureza e as virtudes deste homem, se um aceno dele moderava o calor do fogo, a água mudava o sabor, os anjos ofereciam o conforto de suas melodias e a luz divina dava sua orientação. Parece de verdade que toda máquina do mundo se pôs a serviço dos sentidos, então já tão santificados, desse homem. (LM 5, 12)

 

Essa pureza de coração é uma proposta a todo o seguidor de Francisco e Clara. Como lembra a Regra não bulada, nasce da experiência de Deus “que é o único benigno, inocente e puro” (RNB 23, 29). Quem a vive descobre o caminho da verdadeira liberdade pessoal.

 

O que costuma tolher nossa afetividade é o medo de amar e de ser amado. Por que haveríamos de ter medo? Porque percebemos que aquilo que muitas vezes passa por “amor” prende.

 

Isso é sinal de que não aprendemos a amar direito. Amar é dar-se, não é tomar para si. Quem vive a castidade tem que começar libertando a própria interioridade. Se não for livre a partir do próprio coração, sempre tenderá a cercear também a liberdade dos outros. O verdadeiro livre não é quem não depende dos outros, é quem não depende de si mesmo. Não há cadeia que prenda uma pessoa interiormente livre.

 

Mas é evidente que uma pessoa não pode ser livre só na afetividade. É preciso que não se sinta presa por não conhecer a si mesma ou por ser limitada por preconceito. Quem é livre, em primeiro lugar é disponível. É livre também para deixar cargos, passar para outro trabalho, mudar de cidade, começar tudo com outras pessoas. (grifamos)

 

A liberdade franciscana pressupõe especialmente a capacidade de ser itinerante, de poder sair sempre com alegria para o que for possível, inclusive de ser livre para adoecer e morrer.

 

Em nosso mundo não é fácil viver o amor com liberdade, porque estamos sob um bombardeio de posse sexual e afetiva, principalmente pelos meios de comunicação. Nosso ambiente é consumista até no sexo e no amor. Parece que o apelo sexual é um dos maiores recursos de quem quer vender qualquer coisa. (grifamos)

 

Vide os recursos utilizados pelos meios de comunicação no período que permeia o Dia dos Namorados. (Caminho e Santidade)

Para entender a liberdade e a castidade na perspectiva franciscana é preciso recordar que nela tudo se lê a partir da pobreza: sem se apropriar.

 

No momento que o Senhor determinar publicarei neste blog um artigo sobre a pobreza na perspectiva franciscana, com ref. ao parágrafo anterior.(Caminho e Santidade)

O importante é que, em qualquer situação, nosso coração busque fundamentalmente descobrir o amor na sua fonte: é o Deus Amor, o Deus que é todo o Bem. Ele se manifesta em tudo. Mais ainda nas pessoas. Mas fundamentalmente na figura única de Jesus, a figura humana de Deus. Quem o estiver procurando nunca vai se enganar.

 

liberdade

 

Bibliografia: Livro: Projeto Franciscano de Vida – Centro Franciscano de Espiritualidade (Fr. José Carlos Correa Pedroso) – 1998, Capítulo 8.

Um comentário:

Barbara disse...

A questão da castidade , me parece algo assim: através das paixões gasta-se energia e tal energia deixa de ser direcionada para a espiritualidade, a arte, e etc...E sem vivenciar os desgastes de uma relação amorosa, as pessoas estariam mais aptas a cuidarem da vida de um modo mais pleno.
Qto à pureza, a relaciono com a sinceridade na busca de algo maior do que nós.
"Vinde a mim como as criancinhas",tem a ver com dirigir-se à divindade com a mente vazia de conceitos .
Tudo muito difícil sim mas quem se prepara, ou melhor, quem tem o dom de uma vida religiosa - seja de que religião for - que exerça o dom sem familia, sem os apegos que nos fazem sofrer sempre.
Não foi à toa que Cristo disse:"Quem é minha mãe,quem são meus irmãos?"